Onã e o New Criticism
O texto abaixo, tal como o resto deste espaço para anotações, não pretende ser publicamente inteligível:
Eu não esposaria nenhuma escola de crítica, por não ter interesse em encontrar caráter universal numa obra, nem por outro lado em expressar como uma obra me afeta pessoalmente. O trabalho analítico a que ainda me vejo obrigado, como leitor ou como escritor, consiste apenas em distinguir o que é lixo, limpando a área para que o resto possa andar sozinho. É um esforço negativo, mostrar o que não é o objeto; enquanto o esforço do crítico é positivo, monstrando - supostamente - o que é o objeto. O problema é que a luz só ilumina o que reflete luz; o resto passa despercebido. Na melhor das hipóteses, incorre-se na circularidade Interpretando o Poeta Poeticamente, fazendo necessário um terceiro crítico, o crítico do crítico, e assim ao infinito, como no argumento aristotélico. A imagem cativa, mas não haveria como remunerar todos eles. Tem também os meios termos. Aí no fim, crítica é a boa e velha coqueteria; essa coisa de empregadas, personificações mesmas do Razão. Mas o assunto é para outra hora. Só vou fazer um comentário sobre o New Criticism. Eu já reparado - e examinado - por conta própria o que soube esses dias ser idéia de dois outros broders, William Winsatt e Monroe Beardsley: a Falácia intencional e a Falácia afetiva (essa última bem bagaceira até). Respectivamente, a idéia de que as intenções do escritor não importam, e a idéia de que a reação do leitor não importa; por eliminação, só o texto importa. Imagino ser consenso agora que para um crítico isso não funciona. Assino embaixo por achar que para um crítico nada funciona - segue vacuamente, como se diz em lógica. Já do ponto de vista do leitor e do artista, concordo com a primeira falácia: as intenções positivas do escritor são em grande parte irrelevantes para o escritor e para o leitor; só as negativas têm alguma influência na obra, sufocando-a ou não. [Adendo: na categoria Positivo incluo também formas indiretas, como as negativamente positivas, para ser um pouco bicha pedante; aliás o negativamente positivo é o único positivo que consigo conceber]. Mas o texto também não importa, e é por isso que na presidência de um país vemos um homem e não um livro. Compro essa do distanciamento do autor, mas não é ao texto que é preciso se submeter e sacrificar a individualidade, e sim à sua própria humanidade - o que restou dela. O que importa, enfim, é a reação, do leitor ou do escritor, e aqui estou negando a segunda falácia, mas em parte. Só algumas reações/afetividades importam. O problema está em determinar quais reações importam; discernir entre punhetas intensas e trepas reais. Quando aplicada aos seus correspondentes artísticos, a distinção é não só difícil, como agora impossível para a maioria dos casos. Somos predominantemente punheta. Punheta intensa nos é acessível a toda hora, em todas as partes, mas intensa ou pau-molística, uma punheta é só uma punheta*; esse novo passo na evolução humana, o homo punheticus, precisa voltar a se concentrar ao máximo em suas próprias reações, como um último recurso desesperado para divisar e preservar aquele resíduo de não-punheta em sua humanidade. A conjunção de uma atitude defensiva ou ofensiva, de um lado, e do outro lado uma disposição submissa, de submeter-se à sua humanidade. You gotta let it grow - even though playing those mind guerrillas.
* Não estou falando só de entretenimento. A definição de "não-humanidade" usada aqui fica para outra ocasião.
Eu não esposaria nenhuma escola de crítica, por não ter interesse em encontrar caráter universal numa obra, nem por outro lado em expressar como uma obra me afeta pessoalmente. O trabalho analítico a que ainda me vejo obrigado, como leitor ou como escritor, consiste apenas em distinguir o que é lixo, limpando a área para que o resto possa andar sozinho. É um esforço negativo, mostrar o que não é o objeto; enquanto o esforço do crítico é positivo, monstrando - supostamente - o que é o objeto. O problema é que a luz só ilumina o que reflete luz; o resto passa despercebido. Na melhor das hipóteses, incorre-se na circularidade Interpretando o Poeta Poeticamente, fazendo necessário um terceiro crítico, o crítico do crítico, e assim ao infinito, como no argumento aristotélico. A imagem cativa, mas não haveria como remunerar todos eles. Tem também os meios termos. Aí no fim, crítica é a boa e velha coqueteria; essa coisa de empregadas, personificações mesmas do Razão. Mas o assunto é para outra hora. Só vou fazer um comentário sobre o New Criticism. Eu já reparado - e examinado - por conta própria o que soube esses dias ser idéia de dois outros broders, William Winsatt e Monroe Beardsley: a Falácia intencional e a Falácia afetiva (essa última bem bagaceira até). Respectivamente, a idéia de que as intenções do escritor não importam, e a idéia de que a reação do leitor não importa; por eliminação, só o texto importa. Imagino ser consenso agora que para um crítico isso não funciona. Assino embaixo por achar que para um crítico nada funciona - segue vacuamente, como se diz em lógica. Já do ponto de vista do leitor e do artista, concordo com a primeira falácia: as intenções positivas do escritor são em grande parte irrelevantes para o escritor e para o leitor; só as negativas têm alguma influência na obra, sufocando-a ou não. [Adendo: na categoria Positivo incluo também formas indiretas, como as negativamente positivas, para ser um pouco bicha pedante; aliás o negativamente positivo é o único positivo que consigo conceber]. Mas o texto também não importa, e é por isso que na presidência de um país vemos um homem e não um livro. Compro essa do distanciamento do autor, mas não é ao texto que é preciso se submeter e sacrificar a individualidade, e sim à sua própria humanidade - o que restou dela. O que importa, enfim, é a reação, do leitor ou do escritor, e aqui estou negando a segunda falácia, mas em parte. Só algumas reações/afetividades importam. O problema está em determinar quais reações importam; discernir entre punhetas intensas e trepas reais. Quando aplicada aos seus correspondentes artísticos, a distinção é não só difícil, como agora impossível para a maioria dos casos. Somos predominantemente punheta. Punheta intensa nos é acessível a toda hora, em todas as partes, mas intensa ou pau-molística, uma punheta é só uma punheta*; esse novo passo na evolução humana, o homo punheticus, precisa voltar a se concentrar ao máximo em suas próprias reações, como um último recurso desesperado para divisar e preservar aquele resíduo de não-punheta em sua humanidade. A conjunção de uma atitude defensiva ou ofensiva, de um lado, e do outro lado uma disposição submissa, de submeter-se à sua humanidade. You gotta let it grow - even though playing those mind guerrillas.
* Não estou falando só de entretenimento. A definição de "não-humanidade" usada aqui fica para outra ocasião.
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